Friday 14 November 2008

Para ir além/To go beyond

Ela se apega às memórias e ao passado e não vê o admirável mundo novo que se abre à sua frente, como aquelas pessoas acorrentadas na caverna que preferem ficar só com as sombras e não enxergam as coisas, o sol nem as estrelas lá fora. Será medo do desconhecido? A vida passa, mas a superfície é só a casca, para experimentá-la de fato há que se enfrentar a si mesma, se aventurar...



She clings herself to memories and to past and doesn’t see the brave new worlds which opens up before her, such as those people chained inside the cave who prefer to stay only with the shadows and don’t see the things, the sun nor the stars outside. Will it be fear of the unknown? Life passes away, but the surface is only the peel, to really experience it she must face herself, to adventure herself...

Saturday 8 November 2008

tarde de sábado/Saturday afternoon

Toca "O amor e o poder", de Rosana, no programa de calouros televisivo de sábado à tarde e me lembro da noite em que cheguei a Glastonbury, em março deste ano, entrei em um pub onde uma garota cantava no karaokê, para minha surpresa, a versão original da mesma canção, "The Power of Love", de Jennifer Rush. Só rindo mesmo.



"O amor e o poder" [Love and Power], sung by Rosana [a cheap gaudy pop Brazilian 80s female singer] plays in a Saturday afternoon tv talent show and I remember the night I arrived in Glastonbury, in march of this year, then entered a pub where a girl sang in the karaoke, to my surprise, the original version of the same song, Jennifer Rush's "The Power of Love". I can only laugh.

Monday 3 November 2008

Mosquitos em minha cabeça/Mosquitos in my head

Nestas noites tropicais, mosquitos sonoros impedem meu sono nas horas finais da madrugada, perto do amanhecer. O baixo zumbido da luz branca e fosforescente da luminária é constante no quarto, do outro lado da janela pontuam o ouvido sinais eletrônicos do pseudovigia na motocicleta, carros passam esparsamente pelos arredores, o trem corta a brisa nervosa do subúrbio, cães latem, buzinas soam. Ruas estreitas e esburacadas acumulam casas espremidas por ambos os lados, caminhos de concreto mal acabados são depredados por árvores e pelo uso. As paredes das vielas acomodam rabiscos juvenis inconscientes, enquanto os viciados da miserável cidade protoindustrial marginal ainda buscam mais e recusam suas camas. Ao fundo, a serra permanece calada, e os mosquitos não parecem estar dispostos a sair e me dar sossego. Outro trem passa, e também um pedestre pela frente da casa, apressado como sempre, junto com as horas. Um galo canta. Uma moto corre e some. Um alarme soa. Pára. Um carro passa pela rua. O galo continua. Passos tortos imprimem a calçada. Cães latem timidadmente. Os mosquitos ainda entram em conflito com o repouso. Não há descanso para os iníquos! Jamais a mente se assenta. Sensações, pensamentos, memórias, referências culturais bombardeiam a consciência. Esse embate, para cessar, apenas gradualmente por anos a fio, em treino de disciplina, e requer paciência, enquanto a desenvolve. A aurora se aproxima, e não há paz ainda.

Meio-dia. Os mosquitos incansáveis zunem pelo quarto. Sinaliza o trem ao passar, invadindo o cômodo. Os insetos parecem não querer ir além da porta ou das janelas abertas. Pássaros cantam lá fora, carros e pessoas passam, vizinhos falam, a brisa se espalha sob o mormaço. É a vida no brejo.



In these tropical nights, sounding mosquitos hinder my sleep by the end of the wee hours, close to dawn. The low buzz of the white and phosphorecent lamp is constant inside the room, on the other side of the window electronic signals of the pseudo night watcher punctuate the ear, cars sparsely pass on the surroundings, the train cuts the nervous suburb breeze, dogs bark, honks sound. Narrow streets full of holes accumulate squeezed houses on both sides, concrete paths badly accomplished are depredated by trees and by use. The alleys walls accommodate unconscious adolescent scribblings, while the miserable protoindustrial marginal town junkies still seek more and refuse their beds. On the background, the mountains remain silent, and the mosquitos don’t seem to be inclined to leave and give me ease. Another train passes, and also a pedestrian in front of the house, hurried as always, along with the hours. A rooster sings. A motorcycle runs and disappears. An alarm sounds. Stops. A car passes by the street. The rooster continues. Bent steps impress the sidewalk. Dogs bark timidly. The mosquitos still quarrel with the repose. No rest for the wicked! Mind never settles down. Sensations, thoughts, memories, cultural references bomb consciousness. This brunt, to cease, only gradually for many a long year, in discipline training, and it requires pacience, while developing it. Dawn comes near, and still there is no peace.

Noon. The restless mosquitos buzz by the room. The train signalizes on passing, invading the room. The insects don’t seem to want to go beyond the open door or windows. Birds sing outside, cars and people pass, neighbours talk, the breeze spreads under the sweltry. This is the marshlife.