Wednesday, 8 October 2014

correlação de consciente e inconsciente/correlation of conscious and unconscious

O mundo masculino tradicional com seu intelectualismo e racionalismo é sentido como um impedimento, do que devemos concluir que o inconsciente, agora aproximando-se dele, fica em oposição direta às tendências da mente consciente e que o sonhador, a despeito dessa oposição, já está favoravelmente disposto em direção ao inconsciente. Por essa razão o último não deve ser subordinado aos julgamentos racionalistas da consciência; deve sim ser uma experiência sui generis. Naturalmente não é fácil para o intelecto aceitar isso, porque envolve pelo menos um sacrificium intellectus parcial, se não total. Além disso, o problema assim levantado é muito difícil de ser compreendido pelo homem moderno; pois para começar ele só pode entender o inconsciente como um apêndice inessencial e irreal da mente consciente, e não como uma esfera especial de experiência com suas próprias leis. No decorrer dos sonhos posteriores esse conflito vai aparecer mais vezes, até que finalmente a fórmula certa é encontrada para a correlação de consciente e inconsciente, e a personalidade é designada à sua posição correta entre os dois. Além disso, um conflito assim não pode ser resolvido pelo entendimento, mas somente pela experiência. Cada estágio da experiência deve ser vivenciado. Não há feito de interpretação ou qualquer outro truque pelo qual se contorne essa dificuldade, pois a união de consciente e inconsciente só pode ser alcançada passo a passo.

A resistência da mente consciente ao inconsciente e a depreciação do último foram necessidades históricas no desenvolvimento da psique humana, pois de outra maneira a mente consciente nunca teria conseguido se diferenciar de modo algum. Mas a consciência do homem moderno se afastou demais do fato do inconsciente. Nós até esquecemos que a psique não é de modo algum nossa criação, mas é em sua maior parte autônoma e inconsciente. Consequentemente a abordagem do inconsciente induz um medo pânico em pessoas civilizadas, não menos por conta da ameaçadora analogia com a insanidade. O intelecto não tem objeção a “analisar” o inconsciente como um objeto passivo; caso contrário uma atividade assim coincidiria com nossas expectativas racionais. Mas deixar o inconsciente seguir seu caminho e experienciá-lo como uma realidade é algo que excede a coragem e a capacidade do europeu médio. Ele prefere simplesmente não entender esse problema. Para o espiritualmente enfraquecido esse é o melhor caminho, pois essa coisa tem seus perigos.

A experiência do inconsciente é um segredo pessoal comunicável apenas a muito poucos, e isso com dificuldade; daí o efeito isolador que observamos acima. Mas o isolamento traz uma animação compensatória da atmosfera psíquica que nos parece misteriosa ou inquietante. As figuras que aparecem no sonho são femininas, apontando assim à natureza feminina do inconsciente.



The traditional masculine world with its intellectualism and rationalism is felt to be an impediment, from which we must conclude that the unconscious, now approaching him, stands in direct opposition to the tendencies of the conscious mind and that the dreamer, despite this opposition, is already favourably disposed towards the unconscious. For this reason the latter should not be subordinated to the rationalistic judgments of consciousness; it ought rather to be an experience sui generis. Naturally it is not easy for the intellect to accept this, because it involves at least a partial, if not a total, sacrificium intellectus. Furthermore, the problem thus raised is very difficult for modern man to grasp; for to begin with he can only understand the unconscious as an inessential and unreal appendage of the conscious mind, and not as a special sphere of experience with laws of its own. In the course of the later dreams this conflict will appear again and again, until finally the right formula is found for the correlation of conscious and unconscious, and the personality is assigned its correct position between the two. Moreover, such a conflict cannot be solved by understanding, but only by experience. Every stage of the experience must be lived through. There is no feat of interpretation or any other trick by which to circumvent this difficulty, for the union of conscious and unconscious can only be achieved step by step.

The resistance of the conscious mind to the unconscious and the depreciation of the latter were historical necessities in the development of the human psyche, for otherwise the conscious mind would never have been able to differentiate itself at all. But modern man’s consciousness has strayed rather too far from the fact of the unconscious. We have even forgotten that the psyche is bv no means of our design, but is for the most part autonomous and unconscious. Consequently the approach of the unconscious induces a panic fear in civilized people, not least on account of the menacing analogy with insanity. The intellect has no objection to “analyzing” the unconscious as a passive object; on the contrary such an activity would coincide with our rational expectations. But to let the unconscious go its own way and to experience it as a reality is something that exceeds the courage and capacity of the average European. He prefers simply not to understand this problem. For the spiritually weakened this is the better course, since this thing is not without its dangers.

The experience of the unconscious is a personal secret communicable only to very few, and that with difficulty; hence the isolating effect we noted above. But isolation brings about a compensatory animation of the psychic atmosphere which strikes us as uncanny. The figures that appear in the dream are feminine, thus pointing to the feminine nature of the unconscious.

C.G. Jung, Psychology and Alchemy (transl. R.F.C. Hull)