Sunday 7 September 2008

[...] Só a dor remove o homem do terra-a-terra esterilizante. É a alegria aquele ópio que torna a alma descuidosa e cega: dínamo de repulsão e dispersão. Dez vezes infelizes os que passam pela vida espanejando-se na alacridade de perpétuo contentamento. São os esconjurados. Nunca compreenderão a beleza dos mistérios, nem o mistério da beleza. A única força criadora e redentora é a dor. E de todos os seus partos o maior foi o da consciência do homem. Faltara a dor, não haveria percepção. Se a consciência é o sentimento íntimo do “eu”, só a dor possui a faculdade de aumentar, aclarando, essa manifestação imediata e poderosa da sensibilidade, enquanto a alegria, no seu rodopiar eterno de farsante, dançando ao som do pandeiro, a dispersa e anula.



[...] Only pain removes man from the sterilizing common dullness. Joy is that opium which makes the soul careless and blind: dynamo of repulsion and dispersion. Ten times unhappy those who pass through life flapping in the alacrity of perpetual contentment. Those are the exorcized turned out. They will never understand the beauty of mysteries, nor the mystery of beauty. The only creative and redemptive force is pain. And of all her deliveries the greatest was of man’s consciousness. Wasn’t there pain, there would be no perception. If consciousness is the inner feeling of “self”, only pain has the faculty to enhance, clarifying, this immediate and powerful manifestation of sensitivity, while joy, in her eternal deceptive spinning, dancing to the tambourine sound, disperses and annuls it.



Órris Soares, “Elogio a Augusto dos Anjos” [Eulogy to Augusto dos Anjos], 1919.

No comments: