Friday 30 October 2009

Espaço e tempo como conceitos psíquicos/Space and time as psychic concepts

[...] Em meu ensaio “Sobre a natureza da psique”, considerei a sincronicidade como uma relatividade do espaço e do tempo psiquicamente condicionada. Os experimentos de Rhine mostram que em relação à psique espaço e tempo são, por assim dizer, “elásticos” e podem ser aparentemente reduzidos quase ao ponto de fuga, como se fossem dependentes de condições psíquicas e não existissem por si próprios, mas fossem apenas “postulados” pela mente consciente. Na visão de mundo original do homem, como encontramos entre os primitivos, espaço e tempo têm uma existência muito precária. Eles se tornam conceitos “fixos” somente no decorrer de seu desenvolvimento mental, em grande parte graças à introdução da medição. Por si próprios, espaço e tempo consistem de nada. Eles são conceitos hipostasiados nascidos da atividade discriminativa da mente consciente, e formam as coordenadas indispensáveis para descrever o comportamento dos corpos em movimento. Eles têm, portanto, origem essencialmente psíquica, que é provavelmente a razão que impeliu Kant a considerá-los como categorias a priori. Mas se espaço e tempo apenas aparentemente são propriedades dos corpos em movimento e são criados pelas necessidades intelectuais do observador, então sua relativização pelas condições psíquicas não é mais motivo de assombro, mas é trazida para dentro dos limites da possibilidade. Essa possibilidade apresenta-se quando a psique observa, não os corpos exteriores, mas a si mesma. Isso é precisamente o que acontece nos experimentos de Rhine: a resposta do sujeito não é o resultado de sua observação das cartas físicas, é um produto da imaginação pura, de ideias “do acaso” que revelam a estrutura daquilo que as produz, a saber, o inconsciente. Aqui enfatizarei apenas que são os fatores decisivos da psique inconsciente, os arquétipos, que constituem a estrutura do inconsciente coletivo. Este último representa a psique que é idêntica em todos os indivíduos. Ele não pode ser diretamente percebido ou “representado”, em contraste aos fenômenos psíquicos perceptíveis, e devido à sua natureza “irrepresentável” chamei-o de “psicóide”.

Carl G. Jung, Sincronicidade: Um princípio conector acausal (trad. R.F.C. Hull). 1960, 1973.



[...] In my essay “On the Nature of the Psyche”, I considered synchronicity as a psychically conditioned relativity of space and time. Rhine’s experiments show that in relation to the psyche space and time are, so to speak, “elastic” and can apparently be reduced almost to vanishing point, as though they were dependent on psychic conditions and did not exist in themselves but were only “postulated” by the conscious mind. In man’s original view of the world, as we find it among the primitives, space and time have a very precarious existence. They become “fixed” concepts only in the course of his mental development, thanks largely to the introduction of measurement. In themselves, space and time consist of nothing. They are hypostatized concepts born of the discriminating activity of the conscious mind, and they form the indispensable co-ordinates for describing the behaviour of bodies in motion. They are, therefore, essentially psychic in origin, which is probably the reason that impelled Kant to regard them as a priori categories. But if space and time are only apparently properties of bodies in motion and are created by the intellectual needs of the observer, then their relativization by psychic conditions is no longer a matter for astonishment but is brought within the bounds of possibility. This possibility presents itself when the psyche observes, not external bodies, but itself. That is precisely what happens in Rhine’s experiments: the subject’s answer is not the result of his observing the physical cards, it is a product of pure imagination, of “chance” ideas which reveal the structure of that which produces them, namely the unconscious. Here I will only point out that it is the decisive factors in the unconscious psyche, the archetypes, which constitute the structure of the collective unconscious. The latter represents a psyche that is identical in all individuals. It cannot be directly perceived or “represented”, in contrast to the perceptible psychic phenomena, and on account of its “irrepresentable” nature I have called it “psychoid”.

Carl G. Jung, Synchronicity: An Acausal Connecting Principle (transl. R.F.C. Hull). 1960, 1973.

1 comment:

Anonymous said...

Ele era muito avançado pra época dele